quinta-feira, 26 de novembro de 2009

20 de novembro, e depois?



Zâmbia O. dos Santos


O dia 20 de novembro é celebrado o Dia da Consciência Negra em todo o Brasil, em homenagem ao grande general Zumbi de Palmares, que se tornou líder no contexto do Brasil colonial, patriarcal e escravista lutando por liberdade ao lado de negros, índios, mestiços e brancos pobres.

Esta data é comemorada atualmente, pois foi uma conquista dos movimentos sociais especificamente o negro, infelizmente é somente neste momento em que a sociedade reconhece as inúmeras contribuições da cultura africana.

E entre os discursos inflamados dos pesquisadores e ativistas negros ouve-se que a condição para a exploração do negro foi à cor de sua pele, e na realidade isto não passa de um grande equivoco, precisamos estar cientes de que a escravidão não ocorreu com os povos africanos pelo fato deles serem negros, e sim porque foram convertidos na condição de mercadorias por um sistema que admitia o direito de propriedade ao corpo humano, e esse sistema que era vigente na Europa do séc. XVIII é o mesmo sobre o qual vivemos hoje, o capitalismo.

Porém o regime escravista foi uma das maiores contradições do capitalismo, pois como num sistema onde todos eram livres para participar do mercado ativamente, onde o Estado não mais podia dizer quem têm direito de compra e venda, onde a força de trabalho passa a ser considerada um bem inerente ao operário e que é ofertada ao patrão em busca de uma liberdade maior – maior poder de consumo - seja permitido que pessoas tenham suas liberdades feridas, seu “trabalho” e suas vidas vendidas sem que houvesse seus consentimentos?

Surge então a explicação perfeita: - Os negros são seres sem alma, desprovidos de intelecto, e Deus deu ao homem BRANCO, o poder e soberania sobre os outros seres (animais), inclusive sobre o ser negro.

O racismo cientifico foi a forma de tornar a escravização um fato aceitável e baseada nela surgiram diversos estudos que buscavam comprovar a teoria da inferioridade da suposta “raça negra” . Estudos que foram reforçados com a teoria evolutiva de Darwin, surgiram então, teorias que supunham um maior elo dos negros com os primatas, como uma raça inferior ao homo sapiens que ficou isolada nos confins áridos e exóticos da África, seriam eles raças, assim como as muitas outras raças que surgiram a partir destas crenças, 3, 4 12, 16, 29, varias formas de classificações eram propostas pelos “cientistas”.

A craniometria foi um dos estudos que marcou a busca cientifica pela degeneração da “raça negra”, estudos a respeito das medidas dos crânios de asiáticos, africanos, americanos e europeus, buscavam provar a superioridade da “raça ariana”. No Brasil Nina Rodrigues e outros seguiam com estudos em busca da comprovação da interioridade do negro. Durante cerca de meio século houve a freqüente desmoralização do negro.

E mesmo agora com as descobertas cientificas que provam que a raça humana é monotípica - raça da qual todos os indivíduos fazem parte – de que as diferenças entre os seres humanos não passam, de características físicas superficiais que correspondem a uma fração ínfima da carga genética humana, o racismo perdura.

Ele está intrínseco na sociedade, em pequenas coisas, em frases feitas, em conceitos pré concebidos, e a luta para reverter esse quadro será e é longa, mas em busca de uma forma de obter acesso rápido e desesperado a tão desejada igualdade étnica, muitos intelectuais e movimentos sociais históricos têm caído no canto da sereia das cotas raciais, cotas essas que inicialmente se aplicam para a inserção nas universidades – sem se preocupar em criar mais vagas – que nós sabemos que quando totalmente aceitas são apenas o primeiro passo para a aprovação do estatuto da igualdade racial.

O fato é que em meio ao reformismo esqueceu-se que muito se não tudo a respeito da atual situação de inferioridade dos negros se dá devido à disparidade econômica existente no Brasil e no mundo hoje, em palavras claras, se dá pela luta de classes.

Porque o negro que não tem acesso ao ensino superior hoje, não é o negro que mora em apartamento na área nobre da cidade, que estudou em escolas de qualidade, que freqüenta as lojas de marca e que desfila no seu carro do ano, o negro que não tem acesso à universidade é aquele mora nas periferias, que estudou em uma escola defasada do estado, superlotada e depredada, que não tem acesso a saneamento básico e ao lazer e que anda nos ônibus superlotados e em condições precárias, e este mesmo negro mora ao lado de um branco que estudou na mesma escola e que todo o dia partilha do mesmo sofrimento.

Lutar por um dispositivo do estado que segregue a classe trabalhadora não irá resolver nossos problemas, longe disso, apenas beneficia as grandes corporações, que terão os sindicalistas preocupados em brigar entre si por migalhas ao invés de unirem-se por uma causa única.

Defendemos um ensino publico gratuito e de qualidade para todos em todos os níveis sociais e de todas as cores, desde a base da educação ate o nível superior, lutamos por políticas publicas de qualidades, que desta forma atingirão tanto negros quanto brancos, marginalizados e destituídos dos serviços públicos.


É preciso compreender que a luta contra o racismo é também a luta contra o sistema capitalista, e não é criando uma pequena burguesia negra que iremos acabar com a discriminação, devemos fazer nossas as palavras de Steve Biko, líder negro morto por seus ideias que um dia disse que “racismos e capitalismo são duas faces de uma mesma moeda”.


Mais informações acesse www.mns.com.org.br

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